29/04/06

Flatulência


«Uma pessoa nunca deve assumir um peido em público. Quem o diz é a lei não escrita, a lei que decorre dos costumes. Trata-se da única regra verdadeiramente sagrada da etiqueta americana. Os peidos não têm origem em ninguém nem vêm de sítio nenhum; são emanações anónimas que pertencem ao grupo como um todo, e, mesmo quando todas as pessoas na sala sabem quem foi o culpado, a única atitude saudável é negar terminantemente».
"As Loucuras de Brooklyn", Paul Auster

28/04/06

Ser chefe

«Ser chefe, é antes de tudo, apreender as necessidades de um grupo humano relativamente à missão que têm a realizar; é coordenar os esforços de todos no mesmo sentido; é comunicar a todos a esperança de vencer e fazer com que todos partilhem da alegria de ter vencido (...) Proibir ou inibir não é o caminho mais certo para retirar o que de melhor têm os homens. É antes uma demonstração de forças que só revela a incapacidade de um chefe para motivar a sua equipa sem recorrer ao poder que detém (...) O chefe não é um domador que subjuga; nem um orgulhoso que humilha. É um servidor cuja forma de serviço é assumir a sua parte de responsabilidade e ajudar os outros a assumir a sua (...) A virtude principal dum chefe, e talvez a mais rara, é a humildade. Se os nossos chefes não estão disso profundamente convencidos, se não sabem captar as lições autênticas que lhes vêm dos homens e das coisas, se persistem nas suas opiniões a ponto de não querer escutar ninguém, depressa ficarão vazios e ultrapassados.»

Proletários de todo o mundo, uni-vos para exigir chefes que o saibam ser com inteligência.

(Nota: o texto entre aspas é uma compilação de frases cujos autores eu desconheço mas subscrevo na íntegra).

27/04/06

Montra virtual

Aqui há uns dias, resolvi ir espreitar uma coisa chamada Hi5. Parece que se tornou moda entre os adolescentes, sempre mais permeáveis a estas modernices. Registei-me neste “convívio virtual” ou “serviço online de amizades” ou lá o que é e aí fui eu com uma pontinha de curiosidade, outra de desconfiança. Andei para cá e para lá, abri várias páginas, dei uma olhadela aqui e ali e pronto. Saí, retirei o meu registo e não volto à carga. Confirmei as minhas desconfianças todas. Trata-se sem dúvida de um produto destinado aos sub 18, o que é muito compreensível. A miudagem está em idade de fazer e desfazer amizades como quem troca de camisa. É saudável e faz parte do crescimento. Acho é estranho haver tantos adultos por lá com padrões de comportamento semelhantes. As páginas das mulheres despertaram-me uma curiosidade especial. A ideia com que fiquei é que parece implícita uma competição do género “Miss Hi5” onde as concorrentes aparecem dispostas em catálogos, em busca da amizade mais "desinteressada". Descarregam as suas fotos – às dezenas – em poses estudadas ao pormenor e décors a condizer. Há de tudo: na praia em bikini, na esplanada com óculos escuros, na neve com os skis, em cafés com os amigos, em casa com os cães, sérias, com ar grave, contentes, eufóricas, com a língua de fora, a fazer boquinhas sexys, com a mão na anca, de copo na mão, morenas, louras, com madeixas ou nuances. Um paraíso para qualquer gajo. É só ter olho e alguma criatividade para deixar um comentário a preceito. De preferência, com alguma alusão a um atributo físico. Elas não estão lá para outra coisa.

26/04/06

Promiscuidades

"George W. Bush anunciou hoje que Tony Snow, jornalista do canal Fox, será o novo porta-voz da Casa Branca" (in Público). Este profissional da comunicação social, que em tempos redigiu os discursos do pai Bush, regressa agora à cena política para dar uma mão ao júnior que está em trabalhos com uma popularidade a cair a pique. Entre uma administração e outra, Tony podia ter optado pela prática do golfe ou por fazer mergulho nas Maldivas mas não: andou entretido a fazer jornalismo até aparecer alguma coisita melhor. Qualquer semelhança entre ele e Fernando Lima (ex-assessor de Cavaco Silva na versão Primeiro-Ministro, ex-director do "Diário de Notícias" e actual assessor de Cavaco Silva na versão Presidente da República) só pode ser mera coincidência. Ou não. Depende da perspectiva e da quantidade de algarismos do cheque do ordenado.

25/04/06

Morangos sobredotados

Inês Simões e Luís Lourenço fazem parte do elenco de "Morangos Com Açúcar". São dois jovens fresquinhos, giros e com um ar simpático e limpo. Se tiverem juízo, inteligência, capacidade de trabalho e talento podem, um dia, tornar-se actores porque, na verdade, ainda não o são. Toda a gente sabe que, salvo algumas excepções ao nível do elenco sénior, as estrelas desta série juvenil são recrutadas em agências de modelos e castings mediáticos onde se deixa foto de rosto e de corpo inteiro. Não se exige formação nem experiência: só uma cara laroca e arruma-se o assunto. Pois bem, a Inês é modelo e foi a segunda classificada num concurso de beleza. O Luís participou em anúncios publicitários. Não consta que algum deles tenha estudado para o ofício, ambos são estreantes e andam pela casa dos vinte anos. Hoje, descobri que os dois estão a dar formação num workshop sobre técnicas de interpretação. A ideia é seleccionar miúdos para frequentar uma escola de actores a inaugurar em Braga. Se calhar sou eu mas acho isto tudo um bocado estranho. Como é que se ensina alguma coisa sem ter aprendido quase nada?

23/04/06

Ipod Nano

Já andava desconfiada de que ia gostar dele. O aspecto agradou-me logo: branco, linhas direitas, fininho, simples, sem luzinhas a piscar nem botões supérfulos. De uma elegância só. Agora, que descobri o que está para além da aparência e ouço pela primeira vez "Mar Nha Confidente" de Cesária Évora neste curioso objecto pouco mais grosso do que um cartão multibanco percebo tudo: as pessoas deviam ser todas como o Ipod Nano. Bonitas por fora e competentes por dentro.

20/04/06

10 passos para conquistar um gajo

1. Analisar em profundidade o terreno. Impõe-se o conhecimento com um grau razoável de certeza dos gostos e das preferências, dos ódios e das embirrações do alvo. «Que curioso, eu também adoro caminhar à beira-mar quando o sol se põe».

2. A disponibilidade para ouvir mais e falar menos é essencial. Uma confidente meiga e carinhosa disfarça qualquer alma perversa e com segundas intenções. «Sabes que podes desabafar comigo sempre que precisares».

3. Numa fase mais adiantada, já se justifica um atrevimento verbal como passar a tratar o alvo por outro nome que não o próprio. Aumenta o nível de confiança e faz a necessária distinção entre ela e os outros. «Claro que vou ver-te a jogar futebol, fofinho».

4. Informações sobre ex-mulheres, ex-amantes, ex-namoradas nunca são demais. A estratégia passa por não repetir os erros cometidos pelas anteriores e saber vincar bem as diferenças. «Que horror, a tua ex não se depilava durante o Inverno? Eu seria incapaz».

5. A conquista da família do alvo é um passo primordial. O segredo é distribuir elogios, quanto mais melhor, por todos os elementos que dela fazem parte, cães e periquitos, incluídos. «Aquela lasanha que a tua mãe faz é simplesmente única».

6. Fazer muitos planos é sempre bom. Projecta a relação no futuro e evidencia o empenho na continuidade. «Gostava tanto de ir à República Dominicana contigo».

7. Os intervalos entre os encontros devem ser sempre preenchidos com telefonemas e SMS distribuídos equitativamente pelo horário de expediente. É importante que o alvo nunca se sinta esquecido ou negligenciado. «Tens de comer qualquer coisa antes de ires para a reunião».

8. Os amigos do alvo são sempre os melhores do mundo, de tão divertidos e simpáticos. A integração no círculo de amizades dele deve ser feita tão rápido quanto possível. «E se combinássemos um fim-de-semana com o João e a Maria? Eles são uns queridos».

9. O bem-estar físico e mental do alvo é uma prioridade absoluta. Qualquer sintoma de febre ou tosse persistente, exige reacção à altura. «Vou já fazer-te uma canja deliciosa».

10. A frase “Amo-te muito” deve ser utilizada em doses industriais e em todas as circunstâncias, sem excepção. Nunca é demais e cai sempre bem.

18/04/06

The Pulitzer Prizes 2006

New Orleans, LA -- Kimi Seymour, 27, took a break from pushing her few remaining possessions along Interstate 10. (September 1, 2005. Photo by Irwin Thompson.)
Ou o furacão Katrina visto por The Dallas Morning News.

Uma imagem soberba. O desespero e a angústia. Os pertences num carrinho de compras. Uma estrada sem fim à vista. A solidão e as forças no limite. Está tudo lá.

Quando a emenda é pior do que o soneto

Os deputados que se baldaram ao trabalho em vésperas de fim de semana prolongado desdobraram-se em explicações nestes últimos dias. É normal. Toda a gente se tenta desculpar quando comete uma falha destas. É o filho que adoece com uma pontinha de febre, é a mãe idosa que tem consulta externa no hospital, é a inspecção do carro cujo prazo acaba naquele dia, é a ida às finanças para resolver um assunto de vida ou morte, é a escritura da casa e o que mais a nossa imaginação ditar. No caso dos deputados, é tudo mais fácil. Invocam-se "motivos políticos" e pronto. Sabe lá o cidadão o que isso significa na realidade. Pode ser tudo e mais alguma coisa. Agora, o PS decidiu propor algumas medidas para evitar escandaleiras futuras. Estudam-se, portanto, hipóteses de impedir mais baldas. Coisas do género enviar cartas ou telefonar aos deputados para avisá-los de que têm leis para votar e institucionalizar o sistema de folhas de presença. No fundo, no fundo, o que o PS pretende é lembrar aos deputados que têm de trabalhar e merecer o ordenado que nós lhes pagamos. Só isso, mais nada. É tão simples que eu não percebo porque raio precisam eles de um telefonema.

17/04/06

Um momento de egocentrismo

Hoje, estou de parabéns.

13/04/06

Pronto, nem tudo está mal. Os malmequeres estão bonitos nesta altura do ano.

Acordei assim

Um juíz do Supremo Tribunal de Justiça faz a pedagogia da palmada, 119 deputados foram de férias e deixaram leis para serem votadas, a Igreja anuncia que ver muita televisão, ler muitos jornais ou navegar muito na net é pecado, o Irão está a nove meses de obter a bomba atómica e um alemão processou o coelho da Páscoa por provocar obesidade e ataques cardíacos.
Eu não sou de intrigas mas hoje há qualquer coisa de errado no mundo.

12/04/06

Desabafo de uma amiga

«Há uns tempos, por força de circunstâncias profissionais, cruzei-me com uma mulher de 40 anos, brasileira, ex-gerente de um bar de alterne na cidade das mães, católicas, apostólicas, que vão ao domingo à missa. A mulher, bonita, mas já com alguns sinais de quarentona - e se tem essa idade qual é o problema? – numa situação de desespero, confessou-me que temia pelo seu futuro. Sem trabalho, sem documentos (estes foram apreendidos pelo tribunal na sequência de um processo de investigações), disse-me que cada dia que passa perde uma oportunidade na vida. E porquê? “Porque tenho mais um cabelo branco, uma ruga, em suma estou-me tornando velha”, lastimou. No entanto, referiu que se sentia cheia de vida, que o seu interior era o de uma jovem de 18 anos. Pronta para tudo, para trabalhar, para mudar de profissão, para enfrentar o preconceito.
Andei uns tempos a mastigar o assunto. Aquela mulher não era velha… tinha 40 anos.
Esta semana deparo-me com o preconceito às sub-30. Vou a caminho dos 35, solteira, independente. Estou segundo as regras da nossa sociedade ultrapassadíssima. Senti-me velha pela primeira vez na vida quando entrei num banco para pedir um crédito à habitação. Quando a funcionária, também uma mulher, mas a caminho dos 50, ou mais, torceu o nariz quando lhe disse a idade e o estado civil. “Já não é jovem portanto é tudo mais difícil e sozinha”, atirou por cima do balcão. Defendi-me. Perguntou-me se era enfermeira. “Eu não, porque raio havia de ser enfermeira”, retorqui e acrescentei “sou jornalista”. Pior… novo franzir do nariz, desta vez mais forte e acompanhado de um Ui!!!! Sonoro… estridente. “É pena, ia para os 360, assim não”. Que raio serão os 360? Os clientes VIP!!!?
Admito que sai do banco de rastos, sem vontade nenhuma de fazer a aquisição do apartamento, e com vontade de ir para outro canto qualquer do globo, montar a barraca. Considerada velha, apesar de não ter ainda rugas e estar em forma graças ao vicio de fazer exercício físico, com uma profissão sem estatuto, sem um vencimento chorudo, solteira, sem dois filhos, um duplex, um automóvel GTi, um cão e um ar de falsa felicidade, não interesso ao banco, nem à funcionária do banco. Já sou obrigada a enfrentar o assédio dos machos da rua onde moro, que, só porque vivo sozinha, pensam que estou disponível… as críticas dos ex-namorados que quando acompanhados das jovens esposas, ou namoradas, fazem apreciações ao meu estado civil. E agora a mulher do banco!
Pela primeira vez compreendi porque razão algumas mulheres escondem a idade em termos sociais, o motivo porque algumas fazem figuras ridículas, muitas vezes, ao tentar meter-se em roupas que não as favorecem de todo, só para parecerem mais jovens. Então, não temos direito a escolher a nossa própria vida? Temos de seguir os estereótipos da publicidade da TV…Precisava de desabafar».
Glória

Tradição

Há 14 anos que os trabalhadores dos museus, palácios e monumentos dependentes do Ministério da Cultura fazem greve no fim de semana da Páscoa. Eu aposto que eles já nem se lembram do que reinvidicam. A coisa assumiu contornos de tradição e não é bonito acabar com os costumes que caracterizam a nossa identidade. E depois, estes dias dão um jeitaço para dar um pulinho à terra ou até mesmo ao Brasil, que está com pacotes turísticos tão em conta. A Ministra da Cultura que não se esforce para tentar resolver a situação: estes trabalhadores estão que nem uns irredutíveis gauleses prontos para arrasar com as pretensões de qualquer romano. Não são como os fracos dos colegas espanhóis que vão permitir o alargamento do horário de funcionamento dos museus estatais durante a Páscoa. Imagine-se que até vão ser promovidas exposições temporárias, concertos, sessões de cinema e peças de teatro, com o objectivo de responder à maior procura que se verifica neste período. Olha, olha... Era o que faltava! As minhas ricas férias da Páscoa!

11/04/06

Romeu e Julieta

Ontem, um idoso de 74 anos tomou uma decisão difícil na solidão do quarto que partilhava com a mulher, de 80. Atormentado com o sofrimento dela, causado pela doença de Alzheimer, matou-a com uma bala na cabeça. Depois, foi para a rua e estoirou com a cabeça dele também. Diz um amigo da família que foi o "desespero e o desgosto". Eu digo que foi o amor. Tem tudo a ver.

Top de Vendas das Livrarias Bertrand



1º «Amor à primeira vista» - Nicholas Sparks
2º «Jorge Coroado - O último cartão» - Jorge Baptista
3º «Uma chuva de diamantes» - Sveva Casati Modignani
4º «Este Jesus Cristo que vos fala» - Alexandra Solnado
5º «A inutilidade do sofrimento» - María de Jesus A. Reyes

Diz-me o que lês, dir-te-ei que tipo de país és.

10/04/06

Mais coisa menos coisa II

O presidente do Serviço Nacional de Bombeiros não sabe quantos bombeiros existem em Portugal.
O ministro da Saúde reconhece que existe uma "forte" probabilidade de um em cada 100 doentes internados em Portugal vir a morrer por infecção hospitalar.
Os responsáveis pela construção da Casa da Música, no Porto, revelam que a obra triplicou de preço face ao inicialmente previsto.
O Instituto Nacional de Saúde Pública Dr. Ricardo Jorge garante que afinal poderão morrer 19 mil portugueses com a pandemia da gripe e não 12 mil como estavam previstos.

Oxalá os italianos sejam melhores do que nós a Matemática senão ainda se arriscam a levar com o Berlusconi outra vez.

09/04/06

Devia era ter sido o Grande Prémio

José Carlos Carvalho (Diário de Notícias)
Menção Honrosa na Categoria Notícias - 6º Prémio Fotojornalismo Visão/BES

Mais coisa menos coisa

O número de mortos em Portugal no caso de uma pandemia de gripe deverá ser 19 mil e não os 12 mil previstos em Junho do ano passado, pelo Instituto Nacional de Saúde Pública Dr. Ricardo Jorge (segundo a Antena 1). Das duas uma: ou alguém do Instituto não sabe fazer contas ou apareceram para aí 7 mil portugueses vindos não se sabe muito bem de onde.

07/04/06

Fabrício Carpinejar...

... é um poeta gaúcho do qual não conheço obra. Li uma entrevista dele hoje no DN e tenho a certezinha de que vou comprar o livro, "Caixa de Sapatos", que ele vai lançar. Só por estas duas respostas, acho que já vale o investimento.

"Eu prefiro o ínfimo, a intimidade do que é desperdiçado. Sou um catador do mínimo, do que não serve ao jornalismo. Um observador indiscreto. Fico a escutar as pessoas por aquilo que elas não falam. Aquilo que elas querem esconder. O que elas pretendem esconder é o meu poema".

"O amor tem de ser lento como um rio esculpindo as margens. Ninguém diminui a solidão com o casamento. A solidão é solteira e por toda a vida. Com o casamento, nós diminuímos o isolamento e a solidão fica habitável".

Acho bem dito.

Injustiça

Sempre achei que a felicidade está compactada em pequenos momentos da nossa vida. Eu tenho para aí uma meia dúzia deles todos os dias. Há um que resulta da conjugação matinal de três elementos - café/cigarro/jornal - que pressupõem três acções praticadas num estabelecimento apropriado, vulgo café ou pastelaria. E se a trilogia se completa em sossego, tanto melhor. Não foi o caso hoje. Um minuto depois de me sentar com todos os elementos referidos à minha disposição, percebi que estava feita. Duas mulheres da mesa ao lado, teorizavam sobre a vida em perfeita sintonia de vozes esganiçadas, volume no máximo e sem revelar critério algum na escolha de temas em discussão. Para ser simples, as duas berravam. Como sou uma resistente, abri o jornal e acendi o cigarro. Parvoíce. Não consegui ler uma linha, fumei meio ventil, engoli o café em três tempos e fugi, com as vozes delas ainda entranhadas nos meus tímpanos. Duvido que as duas tenham percebido que me roubaram o direito a um dos meus minutinhos diários de felicidade. Grandes cabras.

06/04/06

Orgulhosamente Só

Paulo Portas ontem esmerou-se. Na sessão comemorativa dos 30 anos da Constituição Portuguesa deu para destratar a aniversariante, considerando-a "um erro histórico". Nada simpático. Claro que lhe caíram todos em cima e com razão. Eu também não gostei. Para mim, a nossa constituição não tem culpa nenhum do que se faz de mal neste país. Pelo contrário, até acho que devia ser levada mais à letra. Principalmente, aquela parte que fala da tendencial gratuitidade da saúde e da educação. De doentes e analfabetos estão os países terceiro-mundistas cheios. Isso é que está errado.

05/04/06

Foi bom enquanto durou

(foto elmundo.es)

04/04/06

Rica ideia

"Os polícias russos vão ter aulas de etiqueta depois de terem sido feitas várias queixas devido ao seu comportamento rude" (in site Portugal Diário). Há medidas que deviam ser de importação obrigatória.

Linha de montagem



Hoje apetece-me olhar para o umbigo e desancar na minha geração. Os trintões são uns grandes chatos. Entalados entre os vintões e os quarentões, assim numa espécie de Terra de Ninguém onde já não se é jovem nem se é ainda adulto de corpo feito, estão umas autênticas latas de salsicha a rolar pela linha de montagem. Não se distinguem no aspecto e no conteúdo. Trintão que se orgulhe de si a esta altura do campeonato já trocou o utilitário em 15ªmão pelo monovolume cinza metalizado, o crédito jovem pelo condomínio fechado, o futebol na praia pelo golfe da Quinta da Marinha, a pousada da juventude pelo resort na República Dominicana, o Swatch pelo Rolex, as t-shirts da feira de Carcavelos pelo atendimento personalizado da Sacoor, o SG Ventil pelas cigarrilhas, os caracóis pela sapateira, a imperial pelo whisky. Os filhos andam nos colégios campeões em actividades extra-curriculares, as digressões à casa dos pais e dos sogros têm dia marcado e ponto para picar, as festas em casa de uns e de outros são de elenco residente e presença obrigatória, as férias não se fazem a dois mas a quatro ou a seis em duplo com cama extra. Os homens lêem Dan Brown e andam preocupados com a barriga e com o déficit capilar, as mulheres, fãs de Margarida Rebelo Pinto, já não aguentam o tamanho das coxas e o peito descaído. Fala-se de amantes com os amigos chegados, suspira-se pelo traseiro do vizinho do 4º direito ou pela colega do departamento de pessoal. As discussões perderam a graça: não se grita porque os miúdos estão a dormir e porque também não vale a pena. Aos trinta anos, já ninguém muda. É sentar no sofá IKEA em frente ao ecrã LCD com Dolby Surround e esperar pelos quarenta.

03/04/06

Coitado

"Um indiano pronunciou três vezes durante o sono «divorcio-me de ti». Os líderes religiosos ordenam-lhe agora que abandone a esposa" (in site Portugal Diário).
A isto chama-se levar tudo à letra. Ou com o sono me enganas. Ou a dormir, a dormir... Ou uma pessoa já não pode sonhar alto, pronto. Ou lixei-me porque estavas com insónias. Ou que chatice, fugiu-me a boca para a verdade. Ou, fogo, pelo menos não disse o nome da gaja.
O pobre do indiano que não dormiu o sono dos justos tramou-se, essa é que é essa.

Preguiça

Que fazer se o corpo amolece
e o espírito se dilata?
Nada em nós nos obedece.
A tarde está chata.

É do súbito calor
ou das horas brandas?
Tanto torpor,
virá de que bandas?

Da noite é de esperar
que faça vento da sufocante brisa.
E que me faça libertar,
fugir do que me pisa.

(marta, eu mesma)

01/04/06

Duas considerações

1. O ex-comissário europeu para a Imigração e Assuntos Internos, António Vitorino, em entrevista ao Expresso de hoje, afirma que "só é possível defendermos a imigração legal se não pactuarmos com a ilegal". Pois isto parece-me do mais óbvio que alguém já disse sobre os acontecimentos no Canadá. Ou há moralidade ou comem todos.

2. Esta semana, as estações de TV enviaram equipas de reportagem ao aeroporto de Lisboa e Porto com o objectivo de recolher depoimentos dos portugueses expulsos do Canadá. E como os directos têm razões que a própria razão desconhece, aconteceram algumas cenas bizarras. Assim, de repente, lembro-me de ver uma repórter a interpelar nervosamente tudo quanto era criatura com bagagem e cara de quem acabou de sair de um avião. Teve azar, coitada: passou o directo nisto e não encontrou um único imigrante português a chegar do Canadá. Nós é que ganhámos um belo momento de televisão.